4 dicas para o RH contribuir para a saúde mental no trabalho
Pesquisa mostra que 61% dos brasileiros concordam que o estresse do trabalho já prejudicou sua saúde mental.
A comemoração do Dia Internacional do Profissional de RH acontece no mês de junho. Em 1976, nessa mesma data, foi fundada a Federação Mundial de Associações de Gestão de Pessoas, a WFPMA (World Federation of People Management Associations).
O principal objetivo da data é o de auxiliar no desenvolvimento e na gestão de pessoas ao redor do mundo, além de prezar pela valorização dos profissionais de RH.
Entre as tantas atribuições do profissional de RH em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, com mudanças rápidas e novas necessidades, certamente um dos papéis mais importantes é o de ser um suporte para proporcionar à equipe melhores condições dentro da cultura organizacional.
Se antes era um tabu falar sobre saúde mental no trabalho, hoje a realidade felizmente tem se mostrado um pouco diferente e caminhando para um avanço positivo neste sentido.
Porém, o cenário ainda preocupa: conforme a Gallup, empresa de pesquisa estadunidense, o trabalho remoto tem desgastado mais os profissionais, comprometendo sua saúde mental. Cerca de 86% das pessoas que trabalham remotamente apresentaram pelo menos 1 dos 12 estágios dentro das seis etapas até o nível máximo de exaustão.
Conforme divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 15% dos trabalhadores no mundo possuem transtornos mentais.
Ainda segundo dados levantados pela Empregos.com.br, um dos maiores portais de recrutamento e seleção do Brasil, a maioria dos profissionais brasileiros buscam mais flexibilidade.
Cerca de 86,6% dos entrevistados pelo levantamento consideram trocar de emprego por outro com políticas mais flexíveis e 22,6% não estão satisfeitos com a jornada de 44 horas semanais, prevista na CLT.
“A velha ideia de romantizar o workaholic, de que quanto mais você rala, mais chances terá de receber reconhecimento, não respeitar os próprios limites (ou nem reconhecê-los) também contribui para exaustão, mas é injusto atribuir responsabilidades individuais quando o problema é sistêmico e quando o medo de perder a fonte de renda é maior do que a coragem de se preservar.
Por outro lado, esperar que o sistema mude, no curto prazo, é quase ingênuo da nossa parte, o que nos traz de volta às esferas mais particulares”, complementa Ana Tomazelli.
Uma outra pesquisa, realizada pela Opinion Box, mostra que 61% dos brasileiros concordam que o estresse do trabalho já prejudicou sua saúde mental. 72% dos entrevistados disseram que escolheriam trabalhar em uma empresa que tenha programas voltados para cuidados com a saúde mental.
“É necessário entender que estatísticas sociais são estatísticas corporativas. Temos a tendência de colocar a culpa nas empresas, esquecendo que as empresas – e qualquer outra corporação – são representadas por pessoas. Se um jogador de futebol faz algo errado, o que isso significa para o time?”, ressalta Tomazelli.
Como o RH pode contribuir para um ambiente de trabalho mais saudável?
Lidar com a necessidade de mudança cultural da organização é um dos maiores desafios da área de Recursos Humanos (RH) atualmente.
Segundo Ana Tomazelli, a cultura organizacional é parte crucial do problema, e precisa ser repensada. “Não há uma fórmula mágica, mas primeiramente a empresa – e o RH, que deve ser a ponte de diálogo entre a empresa e os colaboradores – devem compreender que os profissionais são sujeitos complexos, com medos, desejos, aspirações e, claro, talentos aparentes ou não”, enfatiza.
Ana explica que algumas iniciativas do RH podem contribuir positivamente para a melhora da saúde mental dos colaboradores:
1) Entender que ambientes de trabalho seguros e saudáveis são um direito fundamental:
Segundo a própria OMS, ambientes de trabalho seguros e saudáveis não são apenas um direito fundamental para todos.
São também lugares mais propensos a melhorar o desempenho e a produtividade, ampliar a capacidade de retenção de funcionários e minimizar tensões e conflitos internos.
2) Olhos abertos para o assédio no trabalho:
O assédio físico, psicológico ou moral no trabalho viola os direitos humanos e prejudica a saúde mental e física, e o RH tem um papel importantíssimo ao detectar e buscar soluções com a empresa para esse tipo de questão.
“Existem algumas variáveis responsáveis pelo adoecimento dos profissionais, como uma liderança que comete assédio, colegas que praticam bullying, cultura empresarial de performance com metas duras e inflexíveis, entre outros pontos”, pontua a especialista.
3) Abrir espaços seguros para diálogo com os colaboradores:
Pesquisa realizada em 2022 pelo Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino (Ipefem) com mais de 200 participantes, mostra que apenas 37% dos profissionais se sentem totalmente seguros para discordarem da sua liderança no ambiente de trabalho.
Já 63% manifestaram alguma ressalva ou receio de se posicionar quando discordam da liderança. “Esses números refletem a insegurança psicológica dos ambientes corporativos, considerando que a segurança psicológica não deveria ser algo negociável”, diz Tomazelli. O RH tem papel fundamental nessa mediação.
4) Respeitar – e valorizar – a diversidade:
Um quadro de colaboradores diverso e inclusivo é um dos primeiros passos para um ambiente de trabalho mais saudável.
“Trabalhar por uma empresa mais diversa não, é algo que possa ficar só no discurso. Os processos seletivos devem levar isso em consideração, bem como a contratação e a retenção dos talentos. Todos os processos devem ter essa premissa.
E a partir do momento que o quadro fica mais diverso, é preciso também garantir o bem-estar das pessoas, indo contra qualquer tipo de discriminação ou preconceito”, finaliza Ana.
Ana Tomazelli, psicanalista e CEO do Ipefem (Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), uma ONG de educação em saúde mental para mulheres no mercado de trabalho. Mentora de Carreiras, Executiva em Recursos Humanos, por mais de 20 anos, liderou reestruturações de RH dentro e fora do país.
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