20 doenças estão relacionadas com a solidão
A solidão, que já é vista pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma questão de saúde pública, pode estar relacionada indiretamente ao surgimento de diversas doenças.
Embora não seja a causa direta, a solidão é capaz de aumentar o risco para uma série de problemas de saúde. Essa é a conclusão de um estudo recente realizado pela Universidade Médica de Ghangzhou, na China, e publicado na renomada revista científica Nature.
Estudo com 12 anos de dados
O estudo analisou dados coletados ao longo de 12,2 anos de uma base biomédica do Reino Unido, chamada Biobank. Os pesquisadores investigaram a relação entre a solidão e 56 diferentes doenças, descobrindo uma associação significativa em 30 delas.
Essas doenças estão divididas em categorias como distúrbios mentais, doenças respiratórias, endócrinas, infectocontagiosas e cardiovasculares.
Dentre essas 30 doenças, os cientistas tinham dados genéticos suficientes para analisar a fundo 26. A conclusão foi que a solidão pode estar associada, de forma indireta, ao desenvolvimento de 20 doenças, incluindo doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade, e problemas crônicos no fígado e rins, além de doenças neurológicas.
Relação genética e análise da solidão
Para determinar a relação entre a solidão e as doenças, os pesquisadores utilizaram uma técnica conhecida como randomização mendeliana, que é usada para estudar a causa e efeito em variantes genéticas.
Esse método ajudou a identificar que a solidão está potencialmente ligada a seis outras doenças, embora os cientistas afirmem que não há evidências genéticas suficientes para considerar a solidão como uma causa direta dessas doenças.
Além disso, o estudo ressalta que fatores como condições socioeconômicas, hábitos de saúde, sintomas de depressão e a presença de outras comorbidades são aspectos que influenciam a relação entre solidão e doenças. Ou seja, muitas vezes, a solidão pode ser um reflexo de problemas pré-existentes.
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Impactos do isolamento
Especialistas da Universidade Médica de Ghangzhou também destacam que a solidão pode desencadear mecanismos biológicos e comportamentais que afetam a saúde física.
O estresse provocado pela solidão pode aumentar os níveis de inflamação no organismo e reduzir a motivação das pessoas para se cuidarem, o que as torna mais suscetíveis a doenças.
Uma teoria recente sugere que o isolamento social pode funcionar como um gatilho para uma resposta de estresse no corpo, o que, por sua vez, impacta negativamente o sistema imunológico. Quando a solidão é prolongada, essa resposta pode afetar a capacidade do organismo de se defender de infecções e outras condições crônicas.
Lista de doenças que podem estar ligadas à solidão:
- Doenças do sistema circulatória;
- Isquemia de coração;
- Acidente Vascular cerebral (AVC);
- Fibrilação arterial;
- Alteração perineal;
- Hipertensão;
- Alterações gastrointestinais;
- Doença hepática crônica;
- Doenças do sistema endócrino;
- Diabetes tipo 2;
- Obesidade;
- Doenças genitais crônicas;
- Doença renal crônica;
- Anemia;
- Artrite;
- Atrofia musculoesquelética;
- Enxaqueca;
- Epilepsia;
- Doenças respiratórias alérgicas;
- Asma;
- Ansiedade;
- Apneia do sono;
- Depressão.
A solidão e a saúde mental
É importante observar que o impacto da solidão vai além da saúde física. O estudo aponta que as doenças mentais também podem estar profundamente ligadas à sensação de isolamento.
Indivíduos que se sentem sozinhos tendem a relatar mais sintomas de depressão, ansiedade e estresse, o que pode agravar a saúde mental de maneira geral.
Por outro lado, pessoas que já estão enfrentando problemas de saúde mental frequentemente relatam maior isolamento, criando um ciclo difícil de romper. Isso reforça a importância de manter conexões sociais significativas, que são fundamentais tanto para a saúde física quanto mental.
Solidão como questão de saúde pública
A ideia de que a solidão é uma ameaça à saúde pública já foi destacada por diversas autoridades. Em maio de 2023, o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy, descreveu a solidão como uma “pandemia”, alertando sobre o risco que ela representa para a população.
O alerta faz parte de uma crescente conscientização sobre os efeitos do isolamento social na saúde.
Uma questão interessante levantada pelo estudo é a chamada “causa reversa”. Isso significa que, em alguns casos, a solidão pode não ser a origem das doenças, mas sim um sintoma de problemas de saúde já existentes. Indivíduos com condições físicas ou mentais debilitantes tendem a relatar maior sensação de solidão, o que pode confundir a interpretação de causa e efeito.
Fatores socioeconômicos e comorbidades
Outro ponto relevante é que o contexto social, econômico e de saúde pública local também desempenha um papel importante. Indivíduos que enfrentam dificuldades financeiras, falta de acesso a serviços de saúde ou que lidam com o estigma de certas doenças estão mais propensos a se sentirem isolados.
Essas condições, por sua vez, podem agravar o estado de saúde e aumentar o risco de doenças associadas.
Embora o estudo reconheça que a solidão não pode ser considerada uma causa direta para muitas dessas doenças, os cientistas sugerem que ela deve ser vista como um “marcador substituto” de risco. Ou seja, a solidão é um sinal de alerta de que algo não está indo bem e pode ser um indicador importante de que a pessoa está mais vulnerável a desenvolver doenças graves.
Em resumo, a solidão, além de ser uma questão social, é um fator relevante para a saúde física e mental. Manter conexões sociais e cuidar do bem-estar emocional são passos fundamentais para prevenir o desenvolvimento de diversas doenças.
Veja a lista inteira na revista Nature.
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