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Estrutura de 5 mil anos é descoberta na Dinamarca; o que é?

Na ilha de Falster, na Dinamarca, uma descoberta está fazendo os arqueólogos ficarem intrigados e os obriga questionar a cultura história. Na verdade, ele estão refletindo sobre antigos hábitos de armazenamento de alimentos e até mesmo rituais de povos neolíticos. Tudo isso a partir de uma estrutura misteriosa milenar encontrada no local.

Durante uma obra para extensão de uma linha ferroviária, os trabalhadores encontraram uma estrutura de mais de 5.000 anos, ligada à Cultura do Copo, uma das primeiras sociedades agrícolas da região. E, acredite ou não, o achado é algo tão raro que nem os próprios pesquisadores sabem ao certo o que era usado naquele tempo.

Agora, o que essa estrutura tem de tão especial? Uma adega de pedra, subterrânea, pavimentada com seixos. Embora hoje isso possa parecer algo simples, para uma sociedade neolítica, isso pode ter representado um verdadeiro salto tecnológico. Mas, antes de falarmos sobre isso, vale entender o contexto.

Quem eram as pessoas da Cultura do Copo?

A Cultura do Copo, ou Funnel Beaker, foi uma das primeiras sociedades agrícolas do norte da Europa, presente entre 4.000 e 2.800 a.C. Essas pessoas começaram a mudar o modo de vida da região, substituindo o antigo modelo de caçadores-coletores por práticas de cultivo e criação de animais.

Assim, surgiram as primeiras vilas, casas construídas de forma organizada e até as famosas tumbas megalíticas, os dólmens, que você provavelmente já viu em imagens de grandes pedras posicionadas verticalmente. É o caso da estrutura encontrada recentemente.

Essa transição não só mudou a paisagem como também exigiu novas formas de armazenar comida. Afinal, com a agricultura, é preciso garantir que os alimentos colhidos sejam bem conservados. E é aí que entra a tal adega subterrânea.

A descoberta da estrutura: mais perguntas do que respostas

Os pesquisadores se perguntaram se a estrutura semelhante a um porão seria na verdade um cemitério da cultura do funil, como o mostrado aqui, mas rejeitaram essa ideia devido à falta de evidências que a sustentassem.
Crédito da imagem: Malene Thyssen via
Wikimedia Commons (
CC BY-SA 3.0 )

Durante a escavação no sítio Nygårdsvej 3, foram identificados 141 buracos de postes, sugerindo que ali existiam duas casas construídas em momentos diferentes.

Essas casas tinham pisos de argila compactada, o que já era algo inovador para a época, especialmente na Escandinávia. Mas o mais curioso mesmo foi o que encontraram abaixo do piso: uma estrutura afundada, pavimentada com pedras, semelhante a um porão.

A primeira hipótese dos arqueólogos é que essa depressão servia como uma espécie de adega. Seria um local onde as pessoas armazenavam alimentos, já que, no subsolo, as temperaturas são mais baixas e ideais para a conservação.

Se essa teoria estiver correta, estamos diante de um avanço tecnológico significativo, já que isso teria ajudado os habitantes a manter seus suprimentos por mais tempo.

Por outro lado, não há certeza absoluta sobre essa função. A arqueóloga Maria Brinch, responsável pelo estudo, explicou que há várias possibilidades. “Pode ter sido um espaço ritualístico ou até mesmo uma sepultura, mas até agora não encontramos evidências suficientes para afirmar com segurança qual era o propósito real do local”, disse ela.

Estrutura de sepultura ou espaço ritual?

A equipe inicialmente considerou a hipótese de que o espaço fosse uma sepultura ou até um dólmen, uma vez que o layout se assemelha ao dessas estruturas. No entanto, eles não encontraram nenhum vestígio humano que sustentasse essa teoria. Outro ponto a ser levado em conta são os artefatos encontrados ali.

No espaço submerso, foram encontrados dois fósseis de ouriços-do-mar, o que levou os pesquisadores a considerarem se o local não poderia ter sido usado para práticas ritualísticas. Contudo, mais uma vez, não há material suficiente que corrobore essa ideia.

Veja mais, mas ainda hoje sobre:

Entenda o que pode estar em jogo no futuro

Por enquanto, os pesquisadores ainda estão quebrando a cabeça para entender exatamente o que esse espaço subterrâneo representava para a Cultura do Copo. A datação por radiocarbono indica que a primeira casa e o “porão” foram construídos entre 3.080 e 2.780 a.C. Já a segunda casa foi erguida por volta de 2.800 a.C., o que mostra que o local foi ocupado por um longo período.

Além da estrutura afundada, os arqueólogos também encontraram 1.216 artefatos, incluindo ferramentas de sílex, cerâmicas, ossos queimados e até sílex rachado pelo fogo. Todos esses objetos fornecem pistas sobre a vida cotidiana dessas pessoas, mas ainda não trazem respostas definitivas sobre o propósito da tal adega subterrânea.

Por que não continuar escavando?

Infelizmente, não há planos para futuras escavações no sítio Nygårdsvej 3. Isso porque a descoberta foi feita como parte de uma “escavação de resgate”, um tipo de pesquisa arqueológica que acontece quando uma área vai ser utilizada para construção, e é necessário verificar se há vestígios históricos antes de prosseguir com a obra. Como o espaço já foi explorado e a obra deve continuar, voltar ao local não é uma opção.

Mas isso não significa que as pesquisas sobre o material coletado vão parar. Pelo contrário, os estudos sobre os artefatos encontrados podem trazer novas respostas com o tempo. Enquanto isso, os arqueólogos ficam com mais perguntas do que respostas sobre essa descoberta incomum.

O achado em Nygårdsvej 3 é uma janela para o passado que revela aspectos ainda desconhecidos sobre a vida das primeiras sociedades agrícolas do norte da Europa.

A ideia de uma adega subterrânea é fascinante e, se confirmada, pode mudar nossa compreensão sobre os métodos de conservação de alimentos naquela época. No entanto, o que mais chama atenção é o fato de que, mesmo depois de séculos de pesquisa arqueológica, ainda existem muitas lacunas sobre a vida cotidiana dos nossos antepassados. E é isso que faz descobertas como essa tão empolgantes.

O estudo pode ser lido e conferido na Radiocarbon.

Rodrigo Peronti

Jornalista, especializado em Semiótica. Já atuou em grandes veículos de comunicação do país.

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