O transtorno bipolar é caracterizado especialmente por oscilações extremas de humor. No Brasil, segundo estimativa da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), cerca de 8 milhões de pessoas possuem a doença no país.
Segundo estimativas, uma significativa parcela das pessoas com o transtorno bipolar consomem álcool regularmente, onde, ambas as condições são prejudiciais, mas quando acontecem juntas, os problemas podem se agravar.
Ainda, sim, a interação entre o consumo de álcool e o transtorno bipolar não é muito bem caracterizada. Contudo, um novo estudo examinou a relação entre o consumo de álcool e transtorno bipolar em um dos maiores estudos acompanhando pessoas com bipolaridade de todos.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Michigan, junto com outros pesquisadores da Universidade de Ohio ambas instituições dos Estados Unidos, investigaram como o consumo de álcool impacta os altos e baixos do transtorno bipolar e da vida cotidiana.
Os pesquisadores analisam um total de 584 pessoas com transtorno bipolar que participaram do Prechter Longitudinal Study of Bipolar Disorder, que coleta dados de pessoas com o transtorno desde 2006. A pesquisa foi publicada na JAMA Network Open.
Conforme informado pela Associação Brasileira de Transtorno Bipolar, o transtorno bipolar causa mudanças extremas no humor, na energia, assim como nos níveis de atividade e concentração.
Dessa forma, para estudar com esses fatores podem ser influenciados pelo consumo de álcool, a pesquisa coletou informações sobre a utilização de álcool, depressa, mania ou hipomania (períodos de humor elevado e energia aumentada), ansiedade e funcionamento de cada participante a cada seis meses por um período de 5 anos.
Quando foram inscritos no estudo, 42% dos participantes tinham o transtorno bipolar e ainda faziam o uso de álcool. No caso, a pesquisa também levantou que pessoas bipolares tomando benzodiazepínicos eram menos propensos a manter altos níveis de consumo de álcool em comparação com aqueles que não tomavam esses medicamentos.
O uso de antipsicóticos também foi associado com a redução no consumo de álcool. Entretanto, pessoas que utilizavam antidepressivos tendiam a ter uma variabilidade muito maior quanto o consumo de álcool.
“Essas descobertas relacionadas à medicação enfatizam a necessidade de consideração cuidadosa dos regimes de medicação no tratamento de pacientes com TB que bebem álcool”, observou a Dr.ᵃ Sarah Sperry, responsável pelo estudo.
O estudo foi capaz de identificar também que ingerir álcool acima da quantidade típica estava associado a sintomas aumentados de mania ou hipomania. Todavia, vivenciar episódios maníacos ou hipomaníacos não causam aumento no consumo de álcool.
A pesquisa identificou uma ligação direta entre o aumento no consumo de álcool e o agravamento dos sintomas de depressão e mania. Curiosamente, enquanto beber com mais frequência leva a uma saúde mental precária, experimentar mais episódios maníacos ou depressivos não faz com que as pessoas queiram beber mais.
Outra questão está relacionada ao trabalho, a pesquisa identificou que o uso excessivo de álcool prejudicou o desempenho no trabalho, todavia, neste estudo em questão, o álcool não afetou outras áreas da vida de pessoas bipolares, e os problemas não fizeram com que as pessoas bebessem mais.
“Esperávamos que o aumento dos sintomas afetivos estivesse associado a um maior uso de álcool ao longo do tempo. No entanto, descobrimos que o oposto (ou seja, aumento do uso problemático de álcool) estava associado ao agravamento subsequente dos sintomas depressivos e maníacos ou hipomaníacos”, observa a Dr.ᵃ Sperry.
Vale destacar que, embora exista um certo diálogo entre álcool e bipolaridade, a maioria dos tratamentos para o transtorno não aborda a utilização ou não de bebidas alcoólicas, contudo, com base na pesquisa, pessoas com bipolaridade podem se beneficiar com a redução do consumo de álcool para o tratamento da doença e até mesmo para o trabalho.
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