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Como gatos usando chapéus de crochê ensinam cientistas sobre dor crônica

Os gatos, famosos por sua independência e charme, agora estão ajudando a ciência de uma maneira inusitada. Pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, desenvolveram uma nova técnica para estudar a dor crônica em felinos, utilizando adoráveis chapéus de crochê.

A ideia, além de criativa, tem como objetivo manter eletrodos no lugar enquanto os gatos são submetidos a exames de eletroencefalografia (EEG), um processo essencial para medir a atividade cerebral desses animais.

A pesquisa tem como foco entender como a dor crônica, especialmente relacionada à osteoartrite, afeta os gatos. Estudos apontam que mais de 25% dos gatos adultos sofrem com essa condição, e a porcentagem aumenta conforme eles envelhecem.

A osteoartrite é uma doença degenerativa das articulações que causa dor persistente. No entanto, medir e tratar essa dor em animais é um desafio constante para veterinários.

Tratamento da dor crônica em gatos

Os tratamentos atuais para osteoartrite em gatos são limitados e muitas vezes acompanham efeitos colaterais indesejados. Por isso, os cientistas buscam novas maneiras de modular a dor nesses animais, inspirados em técnicas já usadas em humanos.

A modulação sensorial, como a exposição a estímulos visuais e olfativos, pode ser uma chave para melhorar a qualidade de vida dos gatos.

Neste contexto, os pesquisadores decidiram usar a eletroencefalografia (EEG) para medir como o cérebro dos gatos responde a diferentes estímulos sensoriais, como cheiros e luzes.

A ideia é comparar as respostas de gatos saudáveis com aquelas de gatos que sofrem de dor crônica. Porém, um desafio surgiu logo no início: os gatos não estavam colaborando com os eletrodos na cabeça, sacudindo-os com frequência.

Chapéus de crochê: uma solução criativa

Foi então que surgiu a ideia inusitada de usar chapéus de crochê. Além de manter os eletrodos no lugar, esses gorros ajudaram a evitar que os gatos mastigassem ou brincassem com os fios.

A solução, simples e eficaz, permitiu que os cientistas realizassem medições precisas e coletassem dados valiosos sobre a resposta cerebral dos felinos.

O estudante de doutorado Aliénor Delsart, um dos autores do estudo, explicou que os chapéus de crochê foram inspirados em acessórios fofos que encontraram online. “Durante a aclimatação, percebemos que os gatos sacudiam a cabeça e os eletrodos caíam. Então, tentamos usar os chapéus de crochê para economizar tempo e facilitar o processo”, disse Delsart.

Como funcionou o experimento

No estudo, 11 gatos foram treinados para permanecerem calmos e aclimatados ao ambiente e às pessoas envolvidas no experimento. Isso foi feito ao longo de quatro sessões de 15 minutos, durante duas semanas.

Durante essas sessões, os gatos foram expostos a diferentes estímulos, como o aroma de óleo essencial de toranja e variações de luzes em comprimentos de onda específicos, como vermelho, azul e verde.

Os pesquisadores abriram o recipiente com o óleo essencial por 20 segundos, seguidos por intervalos de dois minutos. Já as luzes foram apresentadas em ordem aleatória, também com dois minutos de intervalo entre cada exposição.

Durante essas exposições, os eletrodos capturavam as ondas cerebrais dos gatos, que permitiram aos cientistas observar como o cérebro dos felinos reagia a cada estímulo.

Resultados promissores

Embora alguns dados tenham sido descartados devido a ruídos excessivos causados pelos movimentos dos gatos, a equipe conseguiu observar respostas importantes no EEG.

Esses resultados pioneiros mostraram que é possível realizar exames de EEG em gatos acordados, algo raro até então, e abriram portas para futuros estudos sobre dor crônica em outras espécies.

Além disso, os cientistas acreditam que esse tipo de pesquisa pode ter implicações terapêuticas no futuro, não apenas para gatos, mas também para outros animais. Segundo Delsart, já existem estudos semelhantes sendo realizados em cavalos e cães, e a equipe espera expandir suas pesquisas para essas espécies.

Você precisa saber disso:

Avanços no tratamento da dor animal

Entender melhor a dor crônica em animais é fundamental para desenvolver tratamentos mais eficazes e menos invasivos. Atualmente, o diagnóstico e o manejo da osteoartrite em gatos são complicados, pois os sinais de dor podem ser sutis e difíceis de identificar.

Essa pesquisa com chapéus de crochê, embora pareça divertida à primeira vista, representa um avanço importante na ciência veterinária.

Para os donos de gatos e profissionais da saúde animal, essa inovação traz esperança. O uso de técnicas como o EEG pode melhorar significativamente a forma como entendemos e tratamos a dor crônica em animais, garantindo uma melhor qualidade de vida para esses companheiros de quatro patas.

Assim, a ciência prova, mais uma vez, que criatividade e inovação são fundamentais para resolver problemas complexos. Afinal, quem diria que pequenos chapéus de crochê ajudariam a avançar nossa compreensão sobre a dor crônica em gatos?

Rodrigo Peronti

Jornalista, especializado em Semiótica. Já atuou em grandes veículos de comunicação do país.

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