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Geração Z apela para o shifting para fugir da realidade

Nos últimos anos, uma prática chamada shifting tem conquistado a Geração Z, principalmente nas redes sociais como o TikTok. O método, que envolve técnicas de visualização e meditação, promete aos seus adeptos a capacidade de “mudar de realidade” de forma consciente.

A ideia é que, ao atingir um estado profundo de relaxamento, é possível vivenciar experiências em realidades alternativas, muitas vezes inspiradas em universos fictícios.

O conceito de shifting ganhou força durante a pandemia de 2020, um período em que muitos jovens enfrentavam isolamento e buscavam formas de escapar da rotina.

Com o tempo livre e a mente cheia de imaginação, a prática de “viajar” para outros universos rapidamente se espalhou, especialmente entre fãs de sagas populares como Harry Potter e The Walking Dead. Hoje, o shifttok, comunidade dedicada ao tema no TikTok, reúne milhões de vídeos sobre a técnica.

O que é o shifting e como ele funciona?

O shifting envolve o uso de técnicas de meditação profunda, muitas vezes combinadas com scripts detalhados que os praticantes preparam antes de dormir. Esses roteiros, chamados de scripts, definem desde os detalhes do cenário até as interações que o shifter deseja ter na nova realidade.

A jovem de 18 anos entrevistada pelo jornal O Globo, por exemplo, relatou que se projeta em uma versão do universo de The Walking Dead. Ela planeja com quem quer interagir e até mesmo coloca em seu script que não será atacada por zumbis.

Ao contrário de um sonho comum, os praticantes de shifting afirmam que a experiência é muito mais vívida. Segundo relatos, é possível sentir toques, cheiros e até gostos.

Para eles, o processo envolve um nível de consciência que não se encontra em sonhos normais. “Quando você shifta, você realmente sente como se estivesse em outra realidade”, explicou uma jovem que pratica a técnica.

Origem do shifting e sua conexão espiritual

Embora o shifting tenha ganhado popularidade nas redes sociais, o conceito não é novo. Ele tem raízes em práticas espirituais e culturas ancestrais. Uma estudante de antropologia de 22 anos compartilhou em entrevista que utiliza o shifting para se reconectar com as crenças Yanomami.

Nessa tradição, é possível viajar para outras realidades através dos sonhos, uma prática que ela vê como uma forma de comunicação com entidades da natureza. “Não é apenas um sonho lúdico, é uma maneira de estar em outra realidade e interagir com o invisível”, disse.

Essa mistura de espiritualidade e fantasia é o que atrai muitos jovens para a prática. A possibilidade de visitar realidades onde podem interagir com seus personagens favoritos ou até resolver questões internas, sem as limitações da vida cotidiana, torna o shifting uma ferramenta poderosa de escapismo.

Você precisa saber disso hoje:

Escapismo ou autoconhecimento?

Apesar da popularidade crescente, o shifting também tem gerado debates acalorados. Para muitos, o método é visto como uma forma de escapismo extremo.

Críticos sugerem que essa fuga da realidade pode ser perigosa, especialmente para quem já enfrenta questões de saúde mental, como baixa autoestima ou insatisfação com a vida real. No entanto, os praticantes defendem que, quando feito de forma consciente, o shifting pode ser uma ferramenta de autoconhecimento.

Uma jovem entrevistada pelo Globo ressaltou que o preconceito em relação à prática é comum, com muitos criticando os adeptos de “fugirem da realidade”. “Se a pessoa está usando o shifting para escapar de problemas reais, é essencial procurar ajuda profissional.

Mas o shifting não é a solução para esses problemas”, afirmou. Ela relatou ter apagado vídeos sobre o tema após receber comentários ofensivos, como “vá para o CAPS [Centro de Atenção Psicossocial]”, mas reforçou que a prática é algo sério e não deve ser tratada como piada.

O que esperar a partir de agora

Com a tecnologia avançando e a cultura digital cada vez mais integrada à vida dos jovens, é provável que o shifting continue a crescer como uma forma de lidar com o mundo à sua volta. A pandemia acelerou a adoção de práticas alternativas de relaxamento e meditação, e o desejo de experimentar outras realidades pode ser uma tendência que veio para ficar.

Além disso, a comunidade no TikTok está em constante expansão, com novos vídeos, dicas e tutoriais sobre como realizar o shifting de maneira eficaz.

O que antes era considerado uma prática exclusiva de grupos espirituais ou comunidades fechadas, hoje faz parte do dia a dia de milhões de jovens ao redor do mundo. Para muitos, o shifting é mais do que apenas um passatempo, é uma forma de explorar novos aspectos de si mesmos e do mundo ao seu redor.

Rodrigo Peronti

Jornalista, especializado em Semiótica. Já atuou em grandes veículos de comunicação do país.

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