Sejam pais problemáticos, sofrer abuso, repetir de ano escolar, entre tantos outros traumas que podemos passar no início de nossa vida podem ter efeitos muito maiores do que se imagina, inclusive no final da vida, levando ao aumento da dor, solidão, desconforto e depressão.
Essas são algumas das principais descobertas de um novo estudo que acompanhou cerca de 6.500 pessoas com mais de 50 anos que morreram entre os anos de 2006 e 2020. O estudo, conduzido pela Universidade de Michigan e pela Universidade da Califórnia, foi recentemente publicado no Journal of The American Geriatrics Society.
“Descobrimos que traumas no início da vida em particular, abuso físico por parte dos pais, estavam fortemente relacionados à dor no fim da vida, solidão e sintomas depressivos”, disse o autor do estudo, Dr. Ashwin Kotwal.
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Eventos traumáticos na infância contribuem para maus hábitos de saúde, além de causar isolamento social, emocional e um risco muito maior para traumas subsequentes, conforme Dr. Kotwal explicou em um comunicado a imprensa.
A equipe que participou do estudo, acompanhou 6.500 pessoas acima dos 50 anos que morreram entre os anos de 2006 e 2020. A idade média das pessoas acompanhadas na sua morte foi de 78 anos.
Todos os 6.500 participantes preencheram questionários sobre as experiências que tiveram com 11 eventos traumáticos e o seu bem-estar psicossocial, sendo entrevistados a cada dois anos até o dia em que faleceram.
Para complementar os dados do estudo, foi realizado uma última entrevista com um membro da família ou mesmo amigo de cada um dos integrantes do estudo, que deram ainda mais insights sobre como foi o último dia de vida de cada um deles.
Ao todo, 2 a cada 5 participantes sofreram traumas durante seus primeiros anos de vida, incluindo exposição ao abuso de álcool e drogas por parte de parentes, ou mesmo problemas com a lei.
A fonte potencial mais comum de trauma na infância estava relacionado a repetência escolar. Já na fase adulta as causas mais comuns de trauma foram algum tipo de doença com risco de vida do cônjuge ou do filho.
Fontes menos comuns de trauma na fase adulta estavam relacionadas a morte de um filho, vício em drogas do parceiro ou do filho, sobreviver a um desastre natural, ou se envolver em uma briga com arma de fogo.
Ao longo de suas vidas, cerca de 8 em cada 10 participantes sofreram com pelo menos um trauma, enquanto 1 em cada 3 sofreu pelo menos três experiências traumáticas.
Os participantes que relataram que não passaram por experiências traumáticas tiveram cerca de 46% de probabilidade de dor moderada a grave no fim de suas vidas, onde, 12% deles tinham probabilidade de solidão.
A depressão também foi identificada como sendo muito menor entre participantes que não haviam passado por traumas na infância. Do qual eles tinham 24% de probabilidade de desenvolver depressão no fim da vida.
Já pessoas que sofreram com cinco ou mais eventos traumáticos tinham 60% a mais de probabilidade de dor moderada a grava no fim de suas vidas, e 22% deles tinham probabilidade de solidão.
No caso da depressão, pessoas que passaram por cinco eventos traumáticos ou mais tinham 40% de probabilidade de desenvolver depressão no fim de suas vidas.
“Embora um forte gradiente social tenha sido observado em vários resultados de saúde — ou seja, indivíduos menos favorecidos geralmente têm perfis de saúde piores — nossos resultados mostram que eventos traumáticos são onipresentes”.
“Experimentar traumas não pode necessariamente ser compensado por recursos sociais e muitas vezes não é uma questão de se, mas quando, os indivíduos serão expostos e em que medida isso pode impactar sua qualidade de vida em idades mais avançadas.”
“O que isso nos diz como provedores é que devemos ver as necessidades de um paciente através de uma lente de trauma”, disse Kotwal, que é certificado em cuidados paliativos e geriátricos. “Perto do fim de suas vidas, as pessoas podem sentir ‘dor total’ — dor que pode ser espiritual e psicológica, assim como dor de fontes físicas. Traumas ao longo da vida podem moldar essa experiência total de dor.”
“Podemos aprender que o que está por trás do sofrimento de um paciente não são apenas os sintomas relacionados à doença, mas a ansiedade e a angústia contínuas que acompanham a perda de controle sobre o próprio corpo”, disse a coautora do estudo , Chelsea Brown.
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